quarta-feira, 17 de março de 2010

Joseph

Joseph chegou em casa exausto, cansado de não fazer nada, alimentado pelo tédio, consumido por uma paixão . Foi direto para cama, deitou, ficou alguns segundos fitando um canto qualquer do quarto. Segundos depois ligou TV, colocou o volume bem baixinho para aliviar um pouco seus pensamentos. Segundos depois ligou o ventilador, para aliviar seus pensamentos e o som da TV. Chegou a uma conclusão, não conseguia dormir. Foi até a cozinha, comeu os restos do almoço do dia anterior, mas fome não se saciava. Estava sendo consumido por algo que não controlava. Havia se passado quase trinta minutos que chegara da rua, mas tinha que sair de novo. Fez uma ligação rápida, acendeu um cigarro. Brigava para não jogar o carro contra algum poste antes de chegar ao seu destino. Chegou, ela já o esperava lá fora. Seu coração acelerou.
- Como está? – perguntou.
- Bem, e você? – respondeu a linda mulher ao entrar no banco de passageiro.
- Me desculpe querer te encontrar mais uma vez, e uma hora dessas da madrugada.
- Não tem problema. Para onde vamos?
- Não sei. Apenas precisava te encontrar.
- Ah, sim. Aconteceu alguma coisa?
- Não, está tudo bem. – respondeu Joseph, pensativo enquanto dirigia sem rumo. Palavras passavam pela sua mente, hipocrisia, indiferença. Por que formalidades se já nos conhecemos tão intimamente e trocamos tantas palavras de amor? – tenho um apartamento aqui na cidade. Estou alugando, mas ainda não encontrei ninguém. Podemos ir para lá.
Chegaram, e a mente de Joseph não cansava. Porque não se saciava? O que faltava? Após alguns beijos deitaram num colchão, a única coisa que havia no apartamento. Foi como sempre, ambos terminaram exaustos. Mas não, Joseph não havia se saciado. Aquela paixão ainda o consumia de maneira descomunal.
- Eu te amo. – disse ele, baixinho.
- Eu também amo você.
De alguma forma, as palavras de resposta não encontravam seu coração. Ficou desesperado. Joseph se virou para a mulher, deu-lhe um longo beijo na nuca, chegou ao pescoço, bebeu daquele perfume que o enfeitiçava. Uma lágrima lhe escorreu pela face enquanto ele abria sua mandíbula o máximo que era capaz. Com toda a força conseguia perfurar a pele macia. Conseguia romper uma artéria que por ali passava. Agora as lágrimas eram intermináveis e se misturavam com o sangue, como quando o rio encontra o mar. A mulher desesperada se contorcia, gritava. Joseph calou-lhe a boca com um longo beijo de sangue.
- Está tudo bem, meu amor. Vai ficar tudo bem. – disse ele, acariciando lhe os cabelos encharcados.
A mulher rapidamente se empalideceu e se calou. Joseph tomou mais sangue enquanto a beijava, até, finalmente, se saciar. Com os olhos inchados, estomago cheio e sangue escorrendo pelos lábios encostou na parede, sentado, fechou os olhos. Havia encontrado a tranqüilidade. Segundos depois levantou, buscou um pedaço de papel e um lápis. Lentamente desenhou o cadáver nu que havia na sua frente. Ao terminar, colocou o desenho no chão, deitou sobre ele, todo encolhido e finalmente adormeceu.